28/12/2014

Saldos!

Sim, é verdade que começaram os saldos. Não, este ano, para não variar, não me vou desgraçar em saldos, tomara eu ter dinheiro para tudo o resto. Portanto, quase a acabar os cremes de dia e de noite, na melhor das hipóteses, mando vir os substitutos duma qualquer loja online que esteja em saldos. Quando ao resto, deixo-vos um excerto da crónica do Ricardo Martins Pereira, vulgarmente conhecido por ser o marido da Pipoca (Mais doce), que está muito bem escrita e com bastante humor. Marido fantástico, é o que ele deve ser. Senão, vejamos.

"Foi por isso que não quis saber quando sábado fiquei a saber que a Zara entraria em saldos no domingo. "Ah, está bem. Domingo, centros comerciais, três dias depois do Natal, está bem, está". Não me iam apanhar lá, de certeza, pensei eu. Pensei, na minha inocência. Só que depois uma pessoa apercebe-se que é casada e que há do outro lado uma senhora que olha para a Zara mais ou menos com a mesma adoração com que eu olho para o Estádio da Luz. 
O diálogo, ao almoço, foi mais ou menos assim.
Eu — Preciso de ir pôr o computador a arranjar. Podemos passar na Worten?
Ela — Na Worten? Não pode ser noutro sítio qualquer nas Amoreiras. É que preciso de ir às Amoreiras.
(reparem no verbo - "preciso")
Eu — Errrr, acho que sim. Posso deixar na PC Clinic.
Umas horas depois, quando íamos a passar a 300 metros do Colombo, insisti.
Eu — O que tens de fazer nas Amoreiras não podes fazer no Colombo? Estamos aqui perto e assim passava lá a deixar o computador.
Ela — No Colombo? Hoje? És doido! Vai estar uma loucura.
Seguimos pelo eixo Norte-Sul. A saída de Benfica já ficara para trás quando chegou a verdadeira justificação.
Ela —... e eu tenho de ir à Uterqüe, que só há nas Amoreiras. E à Zara.
Pronto.
Claro que a confusão era um exclusivo do Colombo. O parque para entrar nas Amoreiras estava "Completo", lia-se no néon vermelho.
Ela — Se calhar vou já andando. Depois vais lá ter acima. Pode ser?
Que remédio.
Quinze minutos para passar a cancela, quinze minutos para estacionar.
Lá deixei o computador a arranjar e enviei a mensagem:
Eu — Estou a subir. Onde andas?
Ela — Zara
Só assim, "Zara", sem perder tempo com detalhes. 
Enchi o peito de ar e lá fui meter-me na Zara, a um domingo, num centro comercial, em dia de arranque de saldos, e três dias depois do Natal. Pior: fui meter-me numa Zara que NÃO TEM secção de homem. Ou seja, não havia outra hipótese que não a de apanhar seca.
Coisa boa: quando uma pessoa não tem nada que fazer distrai-se a ver os outros, a observar, foi o que fiz.
Entrei e aquilo era uma espécie de feira de rua mas com muitas giras e mulheres bem vestidas. Todas remexiam em tudo e mais alguma coisa e usavam os braços, os ombros ou os maridos como cabides, com dezenas de peças penduradas em tudo o que era sítio. A pressa e aquela fobia de comprar tudo, que deve ter um nome qualquer, dava para tudo até mesmo para mulheres se despirem quase ao ponto de ficarem de sutiã só para não perderem tempo a ir aos provadores. Lá dentro, a reboque da namorada, e com um ar tão aborrecido como eu, andava o humorista Luís Franco Basto, a imitar na perfeição o rosto de um homem aborrecido. Cá fora, à porta, encostados aos vidros, sete, oito, dez homens que seguramente já haviam perdido a paciência e preferiram vir até à rua ver gente a passar, que sempre é menos aborrecido.
Nas caixas, filas e mais filas, tudo mulheres, claro, todas com os braços carregados de tudo o que eram peças e acessórios, muitos deles que garantidamente não irão usar mais de duas vezes na vida, mas que tinham mesmo de levar porque aquilo era "um bom saldo".
Bons saldos é que não se viram muito, pelo menos a julgar pela minha mulher. 
"Isto não está nada de jeito. Descontos de cinco ou dez euros, não vale a pena. E aqui não há muita coisa que depois se encontra no site".
Quando finalmente passámos a porta da rua, encontrámos uma amiga que trabalha ali mesmo, a dez metros da Zara, e que nos revelou o que se passara horas antes. "Isto agora está calmo. Às nove e vinte da manhã era a loucura. Parecia que havia uma manifestação aqui à porta". 
Hoje foi o primeiro dia. A loucura acaba a 28 de Fevereiro, quando nas prateleiras apenas restarem os XXXXXXXL."

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